domingo, abril 26, 2009

Cultura Indígena

Este final de semana procurando textos sobre cultura indígena para montar um trabalho sobre etnias com meus alunos e também atender a disciplina de "questões etnico-raciais", meu marido leu um texto publicado no Correio do Povo de domingo (26/04/09) e me mostrou, abordava sobre infanticídio nos povos indígenas, o texto me chamou atenção e li a história de uma indiazinha chamada Hakani, membro da tribo Suruwaha, onde o infanticídio é ainda hoje praticado.
Sinceramente fiquei chocada com história de Hakani, sobrevivente de um infanticídio, salva por pessoas que a acolheram e hoje é uma menina saudável e normal.
No linck abaixo consta a história de Hakani, peço que acessem e conheçam sua história;

http://www.hakani.org/pt/historia_hakani.asp

Eis aqui outro depoimento de um indio, da mesma tribo, onde conta a sua história e questiona os costumes de sua tribo.


“A mãe mesmo falou pra mim outro dia ‘Poxa! O pessoal enterrou nosso filho, agora nós só estamos com um.’
É muito triste, a gente não consegue esquecer.”

Meu filho tinha um irmão gêmeo - Depoimento de Paltu Kamayura

Esse meu filho era gêmeo, tinha dois. Eles enterraram o outro. A enfermeira não me avisou que ela tinha gêmeos. Só na hora que nasceram as crianças, às duas horas da madrugada. Eu estava na minha casa e a minha esposa estava na casa da mãe dela. Aí, depois que nasceu, a pessoa veio falar prá mim que eram duas crianças. Eu levei um susto, né? Eles me avisaram que iam enterrar as duas. Aí eu falei que não, que eu precisava pegar pelo menos uma delas. Mas a família não queria que eu pegasse nem uma das crianças.

Eu insisti e aí meu pai foi lá para segurar uma das crianças. Eles pegaram uma e enterraram a outra. Hoje a criança está aqui comigo, já tem sete meses, tá gordinho. Quando eles enterram criança, o pai e a mãe sentem falta. Como é meu caso mesmo. Até hoje eu não esqueço ainda. Porque eu estou vendo o menino, o crescimento dele, aí eu penso no outro também, poxa!

Se eu tivesse alguém que me ajudasse, eu poderia criar as duas crianças... eu falo isso. A mãe mesmo falou prá mim outro dia “Poxa! O pessoal enterrou nosso filho, agora nós só estamos com um.” É muito triste, a gente não consegue esquecer. As pessoas que estudam sobre a cultura do índio, como antropólogos e indigenistas, eles pensam que os índios vão viver assim prá sempre, como era antes. Mas hoje já está mudando. Cada vez mais o pensamento dos jovens, da geração de hoje, vai mudando.

O meu pensamento mesmo, não é como antes. Não é como o pensamento dos antropólogos que estudaram a cultura, que dizem “deixa ele viver assim, isso é a cultura deles”. Não, porque a cultura não pára, ela anda. O pensamento também anda, igualzinho a cultura. Por isso é que hoje a gente está querendo pegar todas essas crianças, até as que têm defeito. Elas são gente, não são animal, não são filho de porco ou de tatu. São gente mesmo, saíram de uma pessoa. Esse é o meu pensamento. Isso quem vai decidir é a gente mesmo. Somos nós que estamos procurando ajuda para criar essas crianças. Nós estamos procurando apoio, nós temos que conversar entre nós mesmos, aí, através dessa conversa, o governo tem que nos atender.

Muita gente já tá procurando ajuda para resolver esse problema. Meu sobrinho mesmo, o Marcelo, ele trabalha na área de saúde. Ele é auxiliar de enfermagem e está indo de aldeia em aldeia, conversando com os caciques. Ele está conversando, falando para não enterrar mais criança que nasce com deficiência, gêmeos, criança que não tem pai. Não é para enterrar mais. Gêmeos, é para pegar, é para criar, porque se a gente ficar enterrando as crianças, nossa população nunca vai aumentar. Essa é a nossa preocupação hoje.”

http://www.hakani.org/pt/outras_historias.asp

Achei oportuno mostrar este depoimento pois aqui mostra que as pessoas querem mudar, procuram ajuda, como ele mesmo menciona sobre a postura de certas entidades e pessoas que preferem não interferir porque as atitudes fazem parte da cultura de cada povo, mas como ele mesmo diz "a cultura anda, assim como o pensamento"

Fazendo um paralelo ao texto que analisamos sobre o "Dilema do antropólogo francês" onde o mesmo resolveu se isentar, não interferir na cultura do povo mesmo sabendo que poderia estar colocando em risco a sua sobrevivência.

Após a divulgação da história de Hakani, surgiu um projeto intitulado Projeto Hakani que luta contra o infanticídio entre nossos índios e a postura adotada por certos órgãos ao tema.

o Projeto Hakani encontra-se no link abaixo, vale a pena conhecer.

http://www.hakani.org/

Um comentário:

Beatriz disse...

Marlene!!! Que beleza!! como crescestes!! Estás em um patamar em que a argumentação é objetiva, clara e com embasamento teórico. Fazes relações e críticas bem posicionadas. As mensagens e que falas acerca do dilema e aqui tb, porque é um dilema, mostras muito claramente tua posição e evidencia a importância do confronto de idéias. lembra que é no confronto do que pensamos e do que estamos tendo contato que o crescimento se dá mais fortemente.
Um abração e parabéns!!
bea.