Desafios II

Recebi a dois meses uma aluna transferida do turno da tarde. Questionei o porquê da troca de turma e foi-me dito que a mesma apresentava problemas de comportamento, disciplina, não realizava as atividades e que eu deveria ser "firme" com ela.
O que me chamou a atenção foi que ao falar ela usava um tom de voz alto, solicitei que baixasse o tom de voz pois estava ao seu lado e não estava falando alto com ela, logo começou a falar um pouco mais baixo, então conversamos e disse saber que nos daríamos muito bem e trabalharíamos sem problemas.
No início ela estava um pouco tímida, quieta em seu lugar, realizava as atividades recebendo elogios e incentivo, mas claro que houve a testagem, num certo dia ela disse que não faria as atividades, conversei e cobrei delas a realização das mesmas, foi então que ela me disse que queria voltar para a sua turma anterior pois lá ela fazia o que queria, disse-lhe que nesta turma era diferente e deveria se portar como os demais, elogiei seu comportamento até então, suas atividades realizadas e seu interesse em solucionar suas dúvidas.
Claro que após esta conversa ela ainda, em algumas ocasiões, tentou me testar mas depois realizava o que era solicitado.
Há duas semanas, solicitada a realizar uma leitura procurou ler, o que até então se recusava, ainda com dificuldades, mas não se recusou, o que me deixou muito contente.
Esta semana lendo uma entrevista de Maturana, que estudamos na disciplina de Psicologia, ele descreve o que é conversar:
“o conversar é um fluir na convivência, no entrelaçamento do linguajar e do emocionar.(...) Por isso é que digo que tudo que é humano se constitui pela conversa, o fluxo de coordenações de fazeres e emoções.”
Acredito que ao conversar com minha aluna estabeleci um elo de cumplicidade ao dizer-lhe que acreditava nela, procurando não falar alto, mantendo um tom de voz baixo e calmo, respeitando-a e solicitando a mesma atitude da parte dela em relação a mim e a seus colegas.
Mais um aprendizado que construi este ano.